3 de mai. de 2012

Quando eu tive certeza do que eu não quero ser

Hoje eu estou tremendamente cansada. Viajei seis horas de madrugada, cheguei em casa, troquei de roupa e fui trabalhar. No trabalho, eu só cuidei do meu trabalho. Fui pra faculdade e cuidei do meu crescimento acadêmico. Vim pra casa e tive a certeza de que eu não quero ser egoísta, egocêntrica, ego. As pessoas pensam demais em si próprias, não lembram do resto ou do todo. Com as redes sociais nos socializamos menos. Sinto falta de sair da faculdade, sentar no chalé, pedir um Bauru e uma cerveja e jogar conversa fora com o Miltão ou com qualquer colega ou amigo. Cantávamos músicas do Legião Urbana e Cássia Eller, descobríamos uns aos outros e um dia, depois de horas/conversa nos entedíamos por um olhar ou a ausência dele. Me lembro de um dia que um amigo de carne, osso, unha e dentes, o Ricardo, me encarou e disse: "eu sei que você não está legal. Você brinca, ri com todo mundo, mas eu sei que você não está bem" e me confortou só de me mostrar que ele estava além dos outros, ele estava em mim, quando tentava fugir de mim. Eu chorei de alegria por ter alguém assim como amigo. Não há mais pessoas assim no mundo. Ric, somos raros. Sinto falta dessa profundidade nas pessoas e nas relações. Tudo é tão complexo, raso e volátil. É culpa de quem? Eu sei que a filosofia ajuda a gente a ser menos egoísta. Penso que vivemos um período de egocêntrismo tentando nos entender. Daí nossas dores afloram, nossos pensamentos são mais densos que os dos outros e nós mediamos nosso conflito para simplesmente entender a nós mesmo e depois, se der tempo, ao mundo. Depois do Zaratustra, quando você foi além do seu animal-estar, você começa ver muito mais o lado de fora e entende o que é a empatia (essa coisa linda de enxergar o outro, o externo, o diferente). Daí você entende que possui 2 olhos, 2 ouvidos e uma boca e passa a ouvir e observar, porque o mundo sempre tem mais que nós. Então, você entende que tem muita água pra beber e matar a sede, é preciso trocar, é preciso ouvir. Se você só beber sua própria urina e seu próprio suor, seu corpo fica fraco, então busque fora de você o que vai te fortalecer. Eu não disse: encontre sua muleta em quer te quer bem. Eu disse beba quem te quer bem e dê de beber. É a partir desse aprendizado da troca e da empatia que você aprender a conviver bem só com você. Estar sozinho é doloroso para muitas pessoas, daí é preciso o iPod, o iPad, o iPhone, a televisão, o cinema, o entretenimento. Pensar sozinho é pertubador. Penso em uma pessoa que eu adoro que não pode mais falar. Me coloco em seu lugar e imagino a impossibilidade de me comunicar, de falar o que eu penso com a rapidez permitida pela minha boca e me sinto mal por abrí-la para reclamar. Se eu ainda posso falar, porque eu não falo mais coisas boas? Que mania doentia é essa de reclamar de tudo? Ou que coisa mais doentia ainda fingir que tudo é maravilhoso? A realidade é tão fraca que precisa ser piorada? Tão merda que precisa ser disfarçada? Por que se preocupar tanto com o que os outros pensam de você? Por que fazemos esse exercício de empatia apenas conosco? Sai do seu conforto! Vou rezar hoje por um mundo menos egoísta e egocêntrico. Isso ainda vai se tornar uma epidemia. Oremos por hoje.