5 de out. de 2007

Enquanto o sono não vem...

E quanto tempo mais vai levar pra ele vir?!
Você tem medo da mentira?
Do acaso?
Do certo?
Do descaso?
Do óbvio?
Do medonho?
Do ódio?
Do sem gosto?
Do frio?
Do rio?
Do silêncio?

Já pensou na gravidade do meu silêncio?
No absurdo que pode ser a falta de consenso? Eu ando meio desacreditada dos créditos dados e não merecidos... Eu ando desacreditada do futuro do País... Do quão promissora será a economia...
Eu ando com a falta do meu irmão... Ando com o desespero do encontro rápido com o André, o Neto e a Regiane... Ando de mãos dadas e suadas comigo mesma... Ando devagar e de salto-alto... Ando sem sonhar mesmo dormindo e acordada só sonho com o Victor... Ando com passos leves e marcantes.... Ando com um sorriso que vem e vai...
Ando mais com lentes pra menos ver... Ando precisando do meu pai... Ando precisando de um emprego bom... Ando querendo um estômago novo... Ando desejando esperanças antigas... Ando e andando concretizo os sonhos que eu não sonhei, as vidas que eu não vivi e os soluços que eu não chorei.

SENTIMENTO DA VIOLÊNCIA
Galinhas são mortas a pauladas, pessoas são mortas por
engano. A vizinhança está em baixa, o turismo está em
alta. A timidez e o eufemismo estão em baixa, sangue e
perfume estão em alta. A sensação só pode ser escrita a
chibata, e por isso sobra fígado, muito fígado. Eu, se
pudesse, matava a causa secreta, gritava enfurecido,
abria-lhe o ventre, roía a cara contra o chão, queimava,
esquartejava, pendurava como ovelha abatida. Não há
causa que valha uma vida. Mas ainda seria pouco. Se
pudesse, expiava a velha culpa e abria com o dedo a
ferida do ressentimento. O ressentimento chega altivo,
feito coruja ruiva, mas não demora para perder as penas,
pestilento. Não há remendo que lhe baste, pois ele
sobrevive ao próprio enterro. É diferente do perdão ou da
vingança, que entretêm a circulação do sentimento. O
ressentimento acumula perdas, desconfia da vida, e nada
coloca no lugar do que retira. O ressentimento mata aos
poucos, por envenenamento. Para suportar esse refluxo,
a culpa do outro se transforma em causa própria, a
fraqueza humana em razão moral. Perdão, mas eu
matava.

(Marcos Siscar)