27 de mar. de 2007

Pra que a brisa vire ventania...

Há um tempo que eu não escrevo nada por aqui...
Não foi a falta de tempo, talvez a demasia dele...
Aquele meu problema que me tirou o sono e a respiração, não existe mais.
Na verdade, vários problemas não existem mais! (ainda bem?)
Eu sempre soube que tinha um coração mole para a paixão, mas fazia tempo que eu não me apaixonava...
Gostei de um aqui...outro ali...mas nada que fizesse a diferença, sabe?
Ontem, eu me lembrei de um conto que escrevi há mais ou menos um atrás. Chamava-se "Fenomenologia do surrealismo amoroso". Era muito legal... Não costumo gostar das coisas que eu produzo, sou sempre muito insatisfeita com o meu trabalho, mas esse texto era legal mesmo! Diferente!
Escrevi ele pensando no Saulo e em mim, mas ao mesmo tempo que ele era a gente, ele era o mundo. Ele simboliza o amor, o especial, o diferente, o formigamento, a fagocitose, a vida além do terreno. Era um texto grande... Eu nunca mais achei esse texto, mas queria muito encontrá-lo para postá-lo aqui.
Enfim, ontem eu senti um pouco disso...
Não senti um pouco...Não sei explicar... Sei que eu me apaixonei...
Quando eu falei isso pra ele, ele naum acreditou (eu acho!Afinal de contas é a Renata que estava falando....), mas tudo bem... Temos tempo...

Façamos o necessário pra que a brisa vire ventania...

TIGELA DE ÁGATE

Você fechou a janela, desceu as escadas e disse em prosa
que se sentia bem embaixo, no pátio aberto, perto da porta.
Você desceu o lixo, olhou o pássaro, brincou de cabra-cega
com as crianças do pátio. Então, pediu-me que servisse a sopa
numa tigela de ágate. A morte com dor não vale a sopa numa tigela de ágate.
O mundo reduzido ao essencial. Isso a faz morrer de rir.
O essencial, você me diz, cabe numa tigela de ágate.
O que quis dizer com isso? Que essencial não há, ou muito pouco,
que no fundo não importa, ou que de fato está nesta tigela de ágate?
Desde então, a dúvida me impede de dizer meu nome.
Com a sola dos pés procuro o fundo da terra sob um brejo de taboas.
Cada vez que me perguntam que fundo é esse, as entranhas me gelam,
a discrepância me invade. Sinto o fundo e ele me abala.
Toda uma sismologia. Viajo sem ter vontade.
Em cada lugar por onde passo, quero de mim uma nova coragem.
Certa vez, você me acenou de longe, ao pé da plataforma, com os olhos vermelhos.
Você que nunca chorava. Quis exilar-me em você.
E talvez eu fique aqui, nesse boteco de luz amarela,
no meio da amazônia, até o fim dos tempos. Mal penso nisso,
o galo ainda não cantou, você já se estendeu ao longo do meu corpo,
se derramou sobre mim e eu a contive. Você cabe em mim tão completamente.
Ouço a sua voz fraca, perdida no percurso da garganta.
O poema deve ser escrito com sangue? Pois que o sangue seja vivo,
vermelho pêssego, turquesa, esmeralda. Foi então que você perdeu a voz,
olhou de lado, fechou-se muda. E sobre as pálpebras cerradas palpitam
veias de um sangue veloz.
Diga-me: quanto sangue será necessário para aplacar o seu silêncio?

(O roubo do silêncio, Marcos Siscar, 2006)

2 comentários:

Anônimo disse...

Quem eh ele, rê?! hehehehe

Anônimo disse...

Vc apaixonada?
Vc?!
Que bom, né?!
hehehe